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22 de novembro de 2012

DENVER PYLE, DE BANDIDÃO DOS FAROESTES ‘B’ AO MAIS QUERIDO ‘TIO’ DA TELEVISÃO



Acima Denver com Faye Dunnaway.
Um dos mais importante filmes dos anos 60 foi “Uma Rajada de Balas” (Bonnie and Clyde), lançado em 1967. Entre as tantas sequências com balas cuspidas por revólveres e metralhadoras, houve uma cena com violência psicológica e que se tornou uma das mais importantes desse filme de Arthur Penn. É quando o casal de ladrão de bancos faz zombarias com um xerife por eles algemado. Poucos cinéfilos sabiam quem era aquele ator que teve um memorável desempenho sendo, naquela cena, beijado por Bonnie Parker e depois cuspindo na assaltante. O ator era Denver Pyle e fãs de westerns que assistiram “Bonnie and Clyde” certamente reconheceram o ator que desde o final dos anos 40 atuava em muitos faroestes ‘B’, chegando posteriormente a ser um ator característico dos mais requisitados pelo cinema e pela TV. Nos anos 70, graças à televisão, não havia um único norte-americano que não soubesse quem era Denver Pyle, mais conhecido como o querido ‘Uncle Jesse’ da série “The Dukes of Hazzard”. Relembrar a carreira de Denver Pyle é falar de um grande ator, da linhagem direta de Charles Buchanan e outros de igual quilate.

Acima Willis Pyle, irmão mais velho
e renomado desenhista da equipe de
Walt Disney; ao lado o jovem no centro Maria
Ouspenskaya e Michael Checkov;
o jovem Denver Pyle.
Cursos com mestres do teatro - No dia 11 de maio de 1920, na pequena cidade de Bethune, no Colorado, nasceu Denver Dell Pyle, filho de um casal que vivia na zona rural. O nome Denver foi dado em homenagem à capital do Colorado e Dell também homenageava uma pequena cidade do mesmo Estado. O jovem Denver chegou à Universidade do Colorado, a qual abandonou após cursar dois anos deixando os estudos para ser baterista de uma orquestra. Não tendo sorte como músico, Denver trabalhou depois em campos de petróleo e numa companhia especializada em pesca de camarões. Denver tinha um irmão mais velho chamado Willis Pyle que, tendo ido para Los Angeles, estava se dando melhor pois era ilustrador da Walt Disney Productions. Willis Pyle levou a irmã para trabalhar numa empresa de publicidade ligada ao cinema e só faltava o irmão Denver ali na Califórnia. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial Denver Pyle se alistou na Marinha e foi mandado para a Base de Guadalcanal. Lá Denver sofreu um ferimento grave que provocou sua baixa. Denver chegou finalmente à Califórnia, mas para trabalhar na Lockheed, na construção de aviões militares, em Los Angeles. Na terra do cinema Denver foi atraído pelo mundo artístico e passou a trabalhar para a companhia da russa Maria Ouspenskaya que além de professora de Arte Dramática era também atriz. Como faz-tudo da companhia, Denver ganhou um curso com Maria Ouspenskaya, sendo posteriormente apresentado a Michael Checkov, irmão do escritor Anton Checkov. Michael Checkov era também professor de teatro e da turma de Denver Pyle faziam parte, entre outros, John Dehner, Marc Lawrence e Akim Tamiroff, com quem Denver atuou em algumas montagens.

Denver Pyle em luta com Wayne Morris (acima);
abaixo à esquerda com Dick Reeves e Phyllis Coates;
na outra foto com Clayton Moore, Pat Butram
e Gene Autry.
Denver Pyle, sempre nos faroestes - Tanta teoria não ajudou imediatamente aquele ator com nome de cidade pois as primeiras oportunidades de Denver no cinema foram em papéis pequenos, a maioria faroestes. Nesses filmes Denver invariavelmente interpretava bandidos e, claro, sendo preso ou mesmo morrendo através dos certeiros tiros de Bill Elliott, Rocky Lane, Tim Holt, Gene Autry, Johnny Mack Brown e até mesmo de Wayne Morris. Vivia-se, no final dos anos 40 e início dos anos 50, os derradeiros momentos dos faroestes feitos em série e os atores citados acima foram os que apagaram as luzes dos westerns de pequeno orçamento. Denver Pyle era alto (1,85m) e seu cabelo começava a ficar grisalho aos 30 anos de idade, o que era comum em sua família. Sua estampa foi definida quando Denver deixou crescer o bigode e duas portas se abriram para o ator. A posta da iniciante TV e a porta do no cinema, com os westerns estrelados pelos mocinhos que supriram a ausência dos cowboys dos queridos ‘bezinhos’. Entre esses mocinhos estavam Audie Murphy, Rory Calhoun, George Montgomery e o mais importante deles, Randolph Scott. Denver Pyle atuou em praticamente todas as primeiras séries westerns de TV, entre elas as de Hopalong Cassidy, Gene Autry, Roy Rogers, Cisco Kid (Duncan Renaldo), The Lone Ranger (Clayton Moore) e Jock Mahoney, tornando Denver Pyle um rosto bastante familiar para os fãs de faroestes.

Denver Pyle com Joel McCrea; numa cena de "No Velho
Colorado"; com Audie Murphy em "A Morte tem seu
Preço"; Edgar Buchanan, o modelo de Denver Pyle.
A influência de Edgar Buchanan - Em 1948, Denver Pyle teve pequena participação em “No Velho Colorado” (The Man from Colorado), estrelado por Glenn Ford e William Holden. Foi nesse western que Denver atuou pela primeira vez com Edgar Buchanan, ator a quem passou a admirar, de quem ficou amigo e de quem passou a imitar o estilo. Numa entrevista, nos anos 70, Denver Pyle declarou que quem o influenciou verdadeiramente no estilo de atuar foi Edgar Buchanan. Na grande maioria dos filmes que fez nos anos 50, Denver Pyle atuava recebendo salário pela chamada ‘escala’ determinada pelo Actors Screen Guild, o sindicato da categoria. Nunca faltou trabalho a Denver Pyle que, só em 1954, participou de seis longa-metragens e 19 séries de TV. Muitos dos filmes dos anos 50 que contaram com a presença de Denver Pyle foram inexpressivos, mas outros são sempre lembrados, como os estrelados por Audie Murphy: “A Morte tem seu Preço” (Gunsmoke), “Jornada Sangrenta” (Column South), “Traição Cruel” (Ride Clear of Diablo) e “Um Homem Contra o Destino” (Cast a Long Shadow); ou aqueles com Randolph Scott: “Arizona Violento” (Ten Wanted Men), “Fúria ao Entardecer” (Rage at Dwan) e “O Fantasma do General Custer” (7th Cavalry); ou ainda com Joel McCrea: “O Forte do Massacre” (Fort Massacre) e “Na Sombra do Disfarce” (The Lone Hand).

Denver Pyle engraçadíssimo com
John Wayne em "Marcha de Heróis";
abaixo com o Duke em "O Álamo".
Amigo de John Wayne - Entre os westerns de maior orçamento Denver Pyle demonstrou seu talento em “Johnny Guitar”, com Sterling Hayden; “Rajadas de Ódio” (Drum Beat), com Alan ladd; “Fora das Grades” (Run for Cover), com James Cagney; “Um de Nós Morrerá” (The Left-Handed Gun), com Paul Newman; “O Bandoleiro Solitário” (The Lone Man), com Jack Palance. Denver Pyle atuou em não-faroestes como  “Terrível como o Inferno” (To Hell and Back), biografia filmada de Audie Murphy e estrelada por ele mesmo e “Estradas do Inferno” (Sky Pilot), primeiro trabalho de Pyle com John Wayne. Paralelamente a esses trabalhos no cinema, Denver Pyle atuou em praticamente todas as melhores séries westerns da TV. Quando a década de 50 estava se fechando, Denver Pyle participou de “Marcha de Heróis” (The Horse Soldiers), de John Ford, com William Holden e John Wayne. Foi nesse filme que Denver e Duke ficaram amigos e John Wayne convidou Denver Pyle para participar de “O Álamo”. Nessa superprodução o Duke percebeu que Denver Pyle se destacava dos demais atores auxiliando-o como se fosse um verdadeiro assistente de direção, o que Denver acabou mesmo sendo. Veio em seguida “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance” que reuniu John Wayne, John Ford e mais uma vez Denver Pyle. No último western de John Ford que foi “Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn) Pyle interpretou um Senador da República.

Denver Pyle com Gene Hackman em
"Uma Rajada de Balas"; abaixo com
James Stewart em "Shenandoah".
Roubando a cena dos ladrões Bonnie e Clyde - Nos anos 60 Denver Pyle havia passado à condição de ator característico e poucos eram melhor que ele para interpretar personagens que expressavam autoridade e integridade apenas com o olhar. Desse período são o drama “Herança da Carne”, com Robert Mitchum e a comédia “A Corrida do Século” (The Great Race), com Tony Curtis, Jack Lemmon e Natalie Wood. Mas o faroeste era mesmo o gênero em que Denver Pyle era mais solicitado, tendo participado, entre os mais importantes de “Gerônimo”, com Chuck Connors; “Ginetes Intrépidos” (The Rounders), com Glenn Ford e Henry Fonda; “Shenandoah”, com James Stewart; “Matar ou Cair”, com Audie Murphy; “O Homem com a Morte nos Olhos” (Welcome to Hard Times), com Henry Fonda; “O Preço de um Covarde” (Bandolero!), com James Stewart e Dean Martin; “Pôquer de Sangue” (Five Card Stud), com Dean Martin e Robert Mitchum. Quando participou destes três últimos filmes, Denver Pyle já havia atuado em “Uma Rajada de Balas” (Bonnie and Clyde), um dos maiores sucessos de bilheteria de 1967. O personagem de Denver Pyle é o de Frank Hamer, o sheriff dos Texas Rangers que não descansa enquanto liquida Bonnie Parker-Clyde Barrow e seu bando. Dali em diante nunca mais Denver Pyle trabalharia ‘pela escala’ pois demostrou como era talentoso em papéis dramáticos.

Sequência do bullying sofrido pelo sheriff  Frank Hamer (Denver Pyle),
nas mãos de Bonnie (Faye Dunnaway), Clyde (Warren Beatty),
Buck Barrow (Gene Hackman) e C.W. Moss (Michael J. Pollard).

Denver Pyle na TV, com Doris Day (acima)
e com a divertida turma de "The Dukes of Hazzard".
‘Uncle Jesse Duke’, o tio mais querido da América - Em 1968, quando Doris Day foi obrigada a trabalhar na TV para pagar a astronômica dívida que o falecido marido lhe deixara, Denver Pyle foi escolhido para interpretar o simpático fazendeiro Buck Webb. Por três temporadas, as melhores da série “The Doris Day Show”, Denver Pyle esteve ao lado da incomparável atriz-cantora, fazendo com que o programa tivesse bons índices de audiência. Em 1971 Denver atuou em “Os Renegados” (Something Big), com Dean Martin; em 1973 Denver reencontrou-se com John Wayne em “Cahill – O Xerife do Oeste” (Cahill – U.S. Marshal). O Duke era J.D. Cahill e Denver era ‘Denver’ mesmo. Em 1976 Denver Pyle voltou a atuar com Paul Newman em “O Oeste Selvagem” (Buffalo Bill and the Indians). No final da década de 70 Denver Pyle, com quase 60 anos, havia engordado bastante e deixado crescer uma vasta barba grisalha. Ninguém mais perfeito para interpretar ‘Uncle Jesse Duke’ na série de TV “The Dukes of Hazzard”, que no Brasil foi exibida como “Os Gatões”. Espetacular sucesso de audiência, essa série transformou Denver Pyle em ídolo nacional na América. O sucesso da série perdurou por seis temporadas e até hoje é cultuada por seus fãs que se reúnem em cidades norte-americanas a bordo de seus Dodge Chargers 1969 pintados como o ‘General Lee’ (um automóvel customizado) da série.

Denver com a segunda esposa; abaixo em
uma cena de "Maverick".
Vida pessoal - Denver Pyle se casou pela primeira vez em 1955, com Marilee Carpenter, com quem teve dois filhos. Marilee trabalhava como assistente de produção na 20th Century-Fox, passando depois a ser uma espécie de agente do marido. Denver e Marilee se divorciaram em 1966, mas ela continuou a trabalhar para ele. Em 1983, aos 63 anos de idade, Denver Pyle se casou com Tippie Johnson, com quem viveu até o falecimento do ator. Denver morreu de câncer no pulmão no dia de Natal de 1997, em Burbank, Califórnia, no rancho de sua propriedade. Quando Denver se casou com Tippie ele vivia o auge do fenomenal sucesso da série “The Dukes of Hazzard”. Após o fim da série, em 1985, Denver Pyle passou a atuar cada vez menos no cinema e na TV, sendo “Maverick”, em 1994, seu último filme. Em “Maverick” Denver Pyle tem uma pequena mas marcante participação como um jogador de pôquer. Foi o último dos 114 filmes em que Denver Pyle atuou, além dos 140 programas de televisão, numa brilhante e prolífica carreira. Denver Pyle dirigiu diversos episódios das séries “The Dukes of Hazzard”, “The Doris Day Show” e “The Death Valley Days”. Em 1974 Denver Pyle ajudou a criar a série “Dirty Sally”, escrevendo e dirigindo alguns dos episódios. O personagem ‘Dirty Sally’ era intepretado por Jeanette Nolan, a magnífica atriz e esposa do igualmente magnífico John McIntire. São atores como Jeanette Nolan, John McIntire e Denver Pyle que ajudaram a fazer a grandeza do cinema e das séries de TV.

Diversos momentos da carreira de Denver Pyle, com destaque para os
personagens 'Briscoe Darling' (com Hugh Griffith) da série "The Andy Griffith
Show"; Buck Webb' (com Doris Day), da série "The Doris Day Show"
 e 'Mad Jack' (com Dan Haggerty), da série "O Homem da Montanha".
Cenas de "Marcha de Heróis", com Denver Pyle acima com Russell Simpson
e abaixo com Strother Martin.


2 comentários:

  1. Prezado Darci,

    Excelente comentário sobre o ator Denver Pyle que ao lado de Leo Gordon, Lee Van Cleef (antes da fama), Roy Barcroft, Robert J. Wilke, Harry Lauter, Jack Lampert, Jack Elan, Robert Middleton, Ted de Corsia, John Doucette, Pat Hogan, Jim Davis, Skip Homeier, James Griffith e entre outros, foram os pilares de sustentação de muitos filmes (westerns, policiais etc.) com suas convincentes atuações.

    A grande maioria dos freqüentadores das matinês desconhecia os seus nomes, porém, sabiam no momento em que eles surgiam na tela iriam espalhar maldades.

    Felizmente há alguns livros dedicados a esses atores, os quais contêm filmografias, biografias e entrevistas tais como: ”Stories Berind The Faces” em três volumes de Jim e Tom Goldrup, “Best of The Badmen” de Boyd Magers e Bobby Copeland, e “Character People” de Ken Jones.
    Mario Peixoto Alves

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  2. Olá, Mário - De fato essa turma que você citou aterrorizava mesmo os mocinhos. Alguns deles chegaram a ter grandes momentos no cinema, quando diretores percebiam suas qualidades de ator. O melhor exemplo foi Sergio Leone mostrando Jack Elam em close no início de Era Uma Vez No Oeste. Denver Pyle é um dos meus preferidos. Dos livros citados possuo apenas o excelente Best of the Badmen. - Um abraço do Darci.

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